Eu sei que há muita gente que olha de lado para esta tendência crescente de se fazerem vinhos mais leves, com baixa intervenção e com a garantia da sustentabilidade, do biológico, biodinâmico, natural e o diabo a quatro, mas eu acho a sua piada. Primeiro, porque não vejo grande diferença entre os novos e os antigos vignerons (os que conheço, obviamente, e já vão sendo alguns), no que se refere à dedicação e ao amor pela vinha e pelo vinho e depois, porque parece que o meu gosto tem acompanhado os tempos, nesta área.
É óbvio que há bons e maus vinhos em qualquer uma das abordagens, mas isso é como tudo na vida. Não temos de gostar todos das mesmas coisas e por mais que revire os olhos a vinho em latas, garrafas sem rolha de cortiça, ou a um Grande Reserva em bag in box, como sugeriu Osvaldo Amado, diretor de enologia da Adega de Cantanhede, no último Vinhos de Portugal, o evento que leva vinhos portugueses ao Brasil, há que aceitar que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
E isso foi bastante visível no Simplesmente Vinho deste ano, com muita gente nova à procura de vinhos diferentes, a bochechar todas as nuances, a comentar os rótulos e a ouvir os produtores, que sugeriam outros produtores que tínhamos mesmo de provar. Também não faltaram as pessoas que cospem o vinho, porque já se sabe que não dá para beber todos os vinhos que se quer provar e esse hábito, sensato e necessário mas, quanto a mim, nojento, muitas vezes associado a profissionais parece ter sido assimilado pelos Millennials, os culpados de tudo, como se sabe.
Confesso que isso não esperava, pelo menos naquele contexto, no meio de um jardim, num ambiente descontraído. Tantas novas tendências e ainda não se inventou uma forma de provar vinhos sem os cuspir? Um comprimido para atenuar, ou aniquilar os efeitos do álcool, por exemplo. Ou, sei lá, uma ideia ainda mais radical, que tal provar poucos vinhos de cada vez?
P.S Mudam-se os tempos, mas as fotos à la minuta continuam em voga
Calita
