TUA VINHARIA
 
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O tamanho importa?

As garrafas de vinho magnum (1,5 L), normalmente, são vendidas mais caras do que duas garrafas de 750 ml, ou seja, o mesmo vinho na mesma quantidade é mais valorizado numa garrafa maior. Por isso, perguntámos a produtores de vinho, de quase todo o país, se o vinho fica melhor em garrafas maiores e todos concordaram que fica diferente, para melhor, mas depende sempre do gosto de cada pessoa.
 
Se é certo que as garrafas de vinho num formato maior são, ainda, para um mercado de nicho, também é verdade que são muitas vezes a escolha para quem quer oferecer um presente especial, ou abrir numa festa que se quer inesquecível. O preço nem sempre é convidativo, uma vez que, na maior parte dos casos, fica mais caro comprar uma magnum do que duas garrafas de 750 ml, mas se é para causar boa impressão não se olha a preços. 
Nem todos os produtores fazem as mesmas contas em relação aos custos de matéria prima (vidro, rolha, rótulos, etc.) e engarrafamento, mas todos concordam no essencial, o vinho numa garrafa magum tem mais longevidade. Ou, como resumiu Júlio César Teixeira, da Adega da Vara: ‘’o vinho em garrafa normal fica melhor mais depressa, enquanto que em magnum fica melhor até mais tarde’’.
Por isso, Catarina Pizarro, da Quinta do Lubazim, não tem dúvidas de que ‘’para vinhos de guarda é muito bom poder ter umas magnuns. É um verdadeiro prazer bebê-las!’’
Também pode acontecer de oferecer um resultado mais aprimorado, no entender da Mariana Roque do Vale, da Casa Clara, uma vez que ‘’os vinhos numa garrafa com volume maior evoluem mais lentamente, o que ajuda a preservar algumas das suas características por mais tempo e isso faz com que possam assumir características sensoriais mais interessantes. Ou seja, um processo mais lento e tranquilo que consegue oferecer um resultado mais aperfeiçoado.’’ 
Há ainda quem considere que beber vinho de uma garrafa XL é como uma viagem no tempo. É o caso da dupla da Grau Baumé e Quinta do Zimbro, Hugo Mateus e Ana Hespanhol: ‘’A evolução do vinho em garrafa magnum é mais lenta, o que dá a oportunidade de voltar atrás no tempo depois de termos bebido o mesmo vinho numa garrafa de 750 ml.’’
Já para Pedro Sequeira, da Quinta do Isaac, entre outras, é muito óbvio que o vinho não fica melhor, pois tudo depende do momento em que abrirmos a garrafa: ‘’Imaginemos um vinho com os taninos um pouco mais expostos aquando do engarrafamento, ao fim de um ano de estágio a garrafa de 750 ml vai ter os taninos mais afinados, em comparação com a garrafa de 3L, e poderá estar mais agradável para beber, naquele momento.’’ 
O produtor da Quinta dos Castelares, Pedro Martins, tem uma opinião diferente: ‘’Pessoalmente acho que que fica melhor. Segundo teorias que já ouvi, isso deve-se a forças de movimentação interna do vinho, mas acho mais que tem a ver com diminuição de presença de oxigénio, o que faz com que a evolução do vinho aconteça mais calma e lentamente.’’
Ou seja, é mais uma questão de tempo do que tamanho, isto é, o tamanho importa se tivermos em consideração a passagem do tempo. ‘’Em igualdade de circunstâncias da rolha e das condições de armazenagem, vinhos guardados em capacidades maiores evoluem melhor. Isto, porque a relação troca de ar e oxigénio pela rolha é menor nas capacidades maiores pelo facto de haver mais vinho para uma dimensão de gargalo e rolha semelhante. Um maior volume de vinho também tem a capacidade de resistir melhor a variações de temperatura. Por este motivo um vinho com capacidade de guarda, envelhece melhor num formato de garrafa maior, seja 1,5 L, 3 L, 5 L ou mais’’, esclarece Filipe Sevinate Pinto, da Herdade da Figueirinha. Sim, há garrafas para todos os tamanhos e, segundo Pedro Sequeira, é um mercado em crescimento. ‘’Nos últimos anos o mercado das garrafas de maior volume tem vindo a crescer, as garrafas de 1,5 L sempre se utilizaram, mas nos últimos 10 anos cada vez se engarrafam mais garrafas de maior capacidade, por exemplo de 27 L’’, explica.
É claro que numa conversa sobre tamanhos a controvérsia teria de vir à baila. Quem a traz à mesa é Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos: ‘’Se por um lado é verdade que, teoricamente, grandes formatos permitem ao vinho ter uma evolução mais lenta em garrafa devido a ter uma ‘porta de entrada de oxigênio’ proporcionalmente mais pequena quanto maior o volume da garrafa, também é verdade que quanto maior o formato, mais difícil se torna conseguir um vedante de cortiça (em princípio a escolha lógica para vinhos de guarda) de qualidade equivalente ao usado na garrafa normal’’. 

A mística do vinho
Não é novidade, para os apreciadores de vinho, que há todo um mundo sensorial, impregnado de História e histórias, que torna o ‘’néctar dos deuses’’ a bebida de eleição nas reuniões de amigos e família. 
Catarina Pizzaro, acredita que ‘’dá, certamente, mais prazer beber uma garrafa magnum em festas, jantares e momentos especiais. Que até podem ser todos os dias!’’, porque não?
É também a opinião de Paulo Namora, da Quinta das Fontaltas, já que ‘’habitualmente, as magnum são servidas num ambiente diferente, mais agradável, desprendido (esplanada, perto da piscina, ...), em boa companhia, num grupo de amigos ou em família; faz-se disso numa ocasião mais especial, o que leva a saber-nos melhor beber esse vinho, ou a ficar-se com mais agradável memória. No caso dos vinhos verdes, tem mesmo de ser um grupo de várias pessoas, para que consumam a garrafa Magnum na integra, naquele momento, para não perder qualidade’’, revela o produtor. 
Júlio César Teixeira acredita que o vinho apresenta uma aura de mistério, que vem do facto de haver muitas constatações empíricas, que a ciência enológica ainda não consegue explicar. E dá o exemplo: ‘’como é que dois vinhos que ‘medem’ de forma igual no laboratório, têm depois comportamentos tão diferentes na prova? Quando introduzimos dimensões sensoriais, apreciações organoléticas, limiares de percepção e outros que tais, então temos a confusão instalada. Cada indivíduo tem a sua própria sensibilidade olfativa e gustativa (características físicas: o que consegue ‘captar’), a que depois se junta a apreciação subjetiva que faz daquilo que ‘capta’, isto é, gosta ou não gosta’’.
Há ainda quem refira o milagre. Já conhecíamos o da transformação da água em vinho, nas bodas de Caná, mas ainda não tínhamos ouvido a referência ao da eterna juventude. Quem o revelou foi Jorge Reis, produtor no Dão, que considera que são poucas as certezas nesta matéria. ‘’Admite-se que o vinho evolui melhor em garrafa magnum do que na banal 750 ml, o que se explica pelo fenómeno da oxidação do seu conteúdo ‘vivo’. Em igualdade de contacto com o ar através da rolha, o néctar da garrafa maior sofrerá relativamente menor oxidação, manter-se-á mais ‘jovem’ ao longo do tempo. A ser assim confirmar-se-á o milagre da Eterna Juventude … numa garrafa de 1,5 L’’.

Outra grande vantagem das magnum, referida em jeito de piada por Hugo Mateus, é só pagarmos um serviço de rolha quando as levamos para um restaurante.

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