TUA VINHARIA
 
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A videira missionária

Um dia de Maio, igual a outro dia qualquer das semanas em que queremos mudar a montra, decidimos ir a um horto comprar uma videira. A ideia era ter uma planta durante uns tempos, ou até à próxima montra.

Pousámos o vaso no sítio que lhe estava destinado, fomos regando a videira, conversando com ela e pondo-a no passeio, de vez em quando, para apanhar mais sol, enfim, fomos tratando dela como sabíamos. Quando começou a mostrar sinais de desgaste trocámos de vaso e, logo no dia a seguir, vimos rebentos.

Foi crescendo dia após dia e agarrando-se a tudo o que estava à volta. Começou a enfiar as gavinhas nos aros da pipa que estava na montra, a entrelaçar-se nos rótulos do Tubarão (parece que em todos os posts que escrevo tenho de referir este vinho), pendurados no vidro, a trepar como se não houvesse amanhã.

[Tenho sempre a impressão que há qualquer coisa de espiritual numa planta trepadeira]

Decidimos improvisar uma pérgula e encaminhá-la para o tecto. Um dia de Agosto, quando fui regar, reparei numa espécie de algodão em alguns ramos e comecei a temer o pior. Quando se começa a temer o pior vai-se ao google, pois claro. Assim fiz e depois de ler tudo, ou quase, sobre pragas borrifei a videira com água e sabão.

Até ver, parece que resultou: as pragas aparentemente desapareceram e apesar de as folhas terem ficado com um brilho estranho, ela continua a trepar como se não houvesse amanhã.

E eu não consigo deixar de pensar que a videira está aqui com uma missão (lá está a qualquer coisa de espiritual, outra vez), talvez a de me resgatar de uma certa descrença, própria de quem tem um negócio.

Ou, se calhar, está aqui para nos lembrar que só temos vinho, porque alguém planta e cuida das vinhas e que podemos ter cada vez mais conhecimento e tecnologias que proporcionam bons vinhos, mas a matéria resulta de coisas muito simples: terra, água e sol.

Só espero que continue a trepar por muito tempo.

Calita

2022 Agosto 17

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