Tinha aqui a lista das novidades que trouxemos para a Vinharia no ano passado (desta vez foram só 95 vinhos), para escolhermos os melhores de 2023, há quase um mês. Não me apeteceu olhar para ela, até hoje, porque, já se sabe, Janeiro é este mês estranho, como se estivéssemos à deriva, a tentar avistar a terra prometida. Além disso, sempre que olhava para ela, para a lista, só pensava: Estou farta de vinho!
É verdade, estou farta, não no sentido de fartura, o que também é verdade, mas no de saturação. Já sei que vir para aqui dizer que não gosto de vender vinho e a seguir que estou farta dele é como morder a mão que me alimenta, mas é um defeito que tenho. Há defeitos piores, acho eu.
Na última crónica da FUGAS, o Pedro Garcias dizia ‘’Há demasiado vinho por todo o lado’’ e tem toda a razão, já não se aguenta tanto ‘’ruído comunicacional gerado em torno do vinho’’, é realmente cansativo.
E, no entanto, acontecem coisas bonitas. Insignificantes no meio da leva, mas ainda assim bonitas. Então, peguei na lista e sem olhar para a do Jaime (tenho de lhe perguntar para quê gastar tanto papel) escolhi os meus vinhos, sem pensar muito, sem nenhum número de vinhos em mente (costumamos escolher 12, um por cada mês do ano). A primeira coincidência foi descobrir que ambos escolhemos 14 vinhos, a segunda, que tínhamos 10 vinhos em comum.
A beleza disto não é só as coincidências, que trazem quase sempre uma aura de mistério, é também olhar para a nossa lista e associar a cada vinho o momento em que o bebemos. E o vinho também é isso, não é? ‘’uma verdadeira âncora existencial’’ (nunca pensei que um dia citaria tantas vezes o Pedro Garcias).
Segue a lista, sem qualquer ordem. Os primeiros dez são os comuns e os dois últimos chegamos a acordo.
Calita
