O Manuel trabalha no restaurante que fica praticamente em frente à TUA VINHARIA. De manhã está na esplanada a ler o jornal e quando passo por ele lá trocamos os bons dias. “Diak ka lae? Sempre diak.”
O Manuel nasceu em Timor em 1958. Sabendo que vivi em Timor vem até cá ao final de algumas tardes beber um copo. E sempre que pode traz amigos que já estiveram em Timor e que passam lá no restaurante. O primeiro que cá trouxe conheceu Timor nos anos 60. O último foi várias vezes, a última das quais em 2015.
O Manuel é boa gente e por isso tem muitos amigos. Mas o curioso é que num restaurante da Póvoa de Varzim trabalha um português nascido em Timor e de lá passarem pessoas que de uma ou outra forma passaram pela ilha do crocodilo. Que fica a mais de 14 mil quilómetros da Póvoa de Varzim. Outras pessoas que passaram por Timor também cá vieram sem ser pela mão do Manuel. E, à volta de um copo de vinho, lá vamos trocando histórias sobre a nossa experiência na ilha e criando mais ligações afectivas. Quer com Timor quer com os novos amigos que a esta mesa vamos fazendo.
O Manuel ouve as histórias sobre Timor com muita atenção e carinho. Ele nunca mais lá voltou apesar de manter contacto com as duas tias, que costumam vir visitar Portugal todos os anos. Este ano não vieram até porque uma delas foi operada, na Austrália, e não está aconselhada a fazer a viagem. Para compensar, o Manuel está convidado a visitar Timor em 2021. Convidado e entusiasmado, mas já me perguntou dezenas de vezes quando lá volto eu para irmos juntos.
O Manuel anda num misto de preocupação e ansiedade por causa da viagem. Rimos sobre as várias possibilidades de escalas e aeroportos. Ele pode marcar a viagem para qualquer data mas agora está mais atento à minha agenda do que à sua vontade.
“Bem, vou indo” dispara o Manuel um pouco antes das sete. “Quando chegar ao restaurante lá me vão perguntar: Foste beber um copo com o Timorense?”
Pelos vistos do outro lado da rua deram-me este cognome. Jaime, o Timorense.
Jaime
