Foi no final de 2019 que o Paulo entrou na Tua Vinharia para nos apresentar os vinhos da Quinta das Fontaltas. Lembro-me bem de estar com um amigo de longa data, e de logo ali provarmos o azal. E lembro-me do quanto nos surpreendeu.
Estávamos no inverno com a azáfama do nosso primeiro Natal à porta e por isso combinei com o Paulo a apresentação dos vinhos dele na Primavera. Não apenas esse tal azal, mas também o arinto e o colheita selecionada. Depois, bom, depois andou por aí um vírus e não pudemos fazer prova nenhuma. Mas o contacto manteve-se e em Junho de 2020 os belos vinhos da família Namora começaram a ser comercializados na Póvoa de Varzim.
Mesmo com a pandemia, e as restrições colocadas à restauração, os vinhos do Paulo estiveram em três restaurantes da Póvoa. Nunca fizemos a tal prova na nossa loja mas, já em Abril de 2022, fizemos um belíssimo jantar vínico no Barracuda Mar onde esteve o Paulo e a sua fiel escudeira, a enóloga Márcia Bernardo.
O Paulo Namora morreu no passado dia 1 de Agosto. Soube-o pela voz triste e pesada da Márcia. Curiosamente, nessa semana, vendemos as últimas garrafas de azal que tinha em stock. Já não pude partilhar esse facto com o Paulo e pedir que mais viessem.
O Paulo falava com paixão deste seu novo projecto. Ele que tinha deixado para trás o mundo do fato e gravata de Lisboa, das finanças, burocracias e ritmo demasiado agitado. Decidiu deixar isso depois de um susto de saúde e de ter percebido, segundo ele, que nada daquilo valia a pena. Olhou para a Quinta das Fontaltas, em Resende, e decidiu arriscar.
Sempre cordial e apaixonado, o que mais me entusiasmava no Paulo era a constante procura e a constante surpresa com novas descobertas. Muitas das vezes rendido às sugestões da Márcia, sempre em profundo diálogo com os filhos para estratégias de comunicação e comerciais e sempre disposto a ouvir uma opinião, qual fosse, sobre os seus vinhos. Muitas vezes partilhámos nós conversas sobre o vinho, os mercados, os caminhos a seguir. E estava programado fazer um piquenique na Quinta das Fontaltas com amigos da Tua Vinharia.
A família já anunciou que tudo fará para dar continuidade ao projecto do Paulo, que nunca o reclamou como seu exclusivo. No meio da tristeza fico feliz e cá estaremos para continuar a representar os vinhos da família Namora.
É comum dizermos que a obra de um escritor, de um músico ou de um pintor faz com que ele nunca morra. Enquanto tivermos o vinho do Paulo por cá, e a cada vindima renovado, sentiremos que ele está sempre presente.
Jaime
