TUA VINHARIA
 
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Pessoas e frutos doces no Verão

Ontem, dia 15 de Março, tivemos mais uma edição do Porto Calling. A décima edição. Foram cinco entre Fevereiro e Maio de 2020, uma no Natal e este ano foram já quatro.

Quando em Março do ano passado iniciamos estas entregas no Porto estávamos longe de acreditar que pudéssemos repeti-las tantas vezes. Gostamos muito deste nosso, que é vosso, Porto Calling. E gostaríamos muito de o fazer muitas e muitas vezes. Sem a pandemia, claro.

Mas é a pandemia que traz alguma das maravilhas destas entregas. Aquele abraço que é recolhido à última hora, os sorrisos que se sentem por trás da máscara, as conversas rápidas e cheias de esperança, os lamentos e protestos contra seres desconhecidos e outros bem identificados, as crianças que aparecem lá no fundo do hall para dizer também olá ou aqueles dois que enquanto eu entregava a caixa à mãe vieram a correr e pediram “não podes entrar um bocadinho para brincar connosco?”

Também cães e cadelas alguns deles bem desesperados para sair do apartamento. Mas ainda não era a hora do passeio higiénico.

Outros casos houve em que as cautelas foram ainda maiores. Tocar no 2º esquerdo, alguém abre a porta do prédio, coloco a caixa no elevador, primo o botão do 2º andar e já está. Entreguei vinho a pessoas descalças, de chinelos, de pijama, de robe e uma vez a alguém saída do banho ainda enrolada na toalha. Entreguei vinho à porta de casa de alguns amigos que saíam à rua e assim aproveitávamos para conversar um pouco sobre coisas mais banais. Sempre sem abraços, sem beijos, apertos de mão ou que tais. Mas sempre, ou quase sempre, prontos a entoar, quais Monty Python, “always look on the bright side of life”.

Tivemos entregas mais pálidas quase só com um obrigado, boa tarde, outras apressadas que o zoom, o teams, ou sei lá o quê, não perdoa. Outras mais alegres com cumprimentos com os pés ou cotovelos. Quem diria que uma boa cotovelada ainda seria uma forma amistosa de dizer olá?

Apelidei-me “aguadeiro do reino” e muitas das vezes senti que era uma missão salva vidas como outra qualquer. Vi pessoas felizes, pessoas tristes, uma ou outra desesperada, mas quase toda a gente bem penteada e aparentemente bem nutrida.

Algumas casas repeti muitas vezes. Se os Porto Calling algum dia terminarem terei saudades. Não da pandemia, claro. Mas de ver as pessoas, nem que seja à porta, ao postigo, à janela ou no passeio em frente de casa. Todas elas prometeram vir à TUA VINHARIA em breve. Mas bem sabemos que a vida não é tal como desejamos e muitas das vontades acabam esmagadas pelas rotinas que viremos a ter.

Ontem, foram entregas apenas no feminino. Começámos na Póvoa, fomos até ao Porto, onde apanhámos sol na Praça, deserta, de Carlos Alberto e terminámos em Santo Tirso. E se mais razões não houvesse para acharmos que estas entregas valem a pena, bastaria a idosa e resistente ameixoeira que me convidaram a conhecer. E que não resisti a fotografar. Flor na Primavera doces frutos no Verão. Assim seja 2021.

Não deixem de ser felizes.

Jaime

2021 Março 16

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