TUA VINHARIA
 
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Rosé

O meu pai disse-me “no meu tempo para mudar de horário de um estabelecimento era quase preciso pedir autorização ao governo. Vocês mudam o horário todos os meses, até baralha!” A Póvoa de Varzim é uma bela cidade, isso já se sabe. Mas sofre de uma espécie estranha de esquizofrenia. Basta ver o clima. As nortadas, a chuva miudinha nos dias de verão, o sol tórrido depois de uma manhã de nevoeiro… Mas esteja o tempo que estiver, as praias têm quase sempre gente.

Lembro-me, por exemplo, de um dia de chuva torrencial em Dezembro que equacionamos nem abrir a TUA VINHARIA pois havia ruas alagadas em que seria possível circular de barco. Foi o melhor dia de facturação da loja em 2019.

Os poveiros, portanto, não definem o quotidiano pelo clima. É pela vontade.  O que muda, se mudar, é quem visita a Póvoa. Muitos não vêm de Guimarães, Trofa ou Fafe à Póvoa se a nortada for mais do que uma promessa ou a chuva impedir o passeio na Avenida dos Banhos. Mas os de cá fazem o que planearam fazer.

O horário da loja pode, por isso, também ser definido pela nossa vontade e pelas nossas necessidades. Com a pandemia reduzimos horário, mas recebemos pessoas fora desse horário, porque muitos já têm o nosso número nos contactos favoritos. Depois da pandemia decidimos abrir só de tarde para poder apoiar a escola dos miúdos.

Agora estamos à espera desse tal verão. E o que mais queremos é voltar a abrir vinho e ver a mesa com pessoas a conversar e beber um copo. Demorei quatro parágrafos para explicar ao que vinha, ou seja, para escrever sobre rosés. E da pena que tenho de termos perdido quase três meses de provas em loja. A próxima será de rosés. Já quisemos fazer só de alvarinhos, já perdemos a prova dos maravilhosos vinhos da Quinta das Fontaltas que iria marcar o início da primavera e cancelamos a excursão a Arcossó.

Chegou a hora dos rosés. Eu, que nunca apreciei rosés, escrevo estas linhas acompanhado pela Susana Esteban na sua versão Procura Rosé. Estupendo. Tanto que acho que já exageramos no consumo do mesmo e não há cliente que entre a quem não sugira este vinho.

Lembro-me de numa visita a um produtor do Douro ele me dizer que há rosés maravilhosos em Portugal mas o problema é o Mateus Rosé. Que não sendo um rosé é uma bebida maravilhosa. E o consumidor que gosta desta bebida não gosta de um bom rosé e quem não gosta desta bebida pensa que os rosés são todos assim.

Lembro-me também da luta constante de explicar, em Timor, que um rosé não é mistura entre vinho tinto e branco. Não é. Mas ainda muitos não acreditam.

Há uns dias levámos Castelares Rosé a uma cliente em Santo Tirso e nessa mesma tarde um cliente habitual elogiou e comprou o Castelares Rosé Pinot Noir. Nesse mesmo dia ficámos sem stock do Touriga Nacional Rosé Maçanita e percebi que era um sinal.

Abri um notável rosé da Quinta Mendes Pereira, excelente produtor injustamente mal conhecido, e ficámos rendidos. Voltamos depois ao Bastardo de Arcossó, insistimos no Castelares, bebemos um rosé vulcânico, desta vez no Candelabro, e voltámos a Mouraz. Pedimos para provar Caminhos Cruzados, Manoella e Soalheiro. Não vamos poder ter todos os rosés. Mas vamos ter todos aqueles de que gostamos.

Agora vou continuar a Procura.

Jaime

2020 Junho 22

tua vinhariaRoséPóvoa de Varzim